quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A relação humana para com Deus

IV – A relação humana para com Deus

1. Lutero, Mood, lutavam com Deus – estou citando estes, mas há uma miríade deles, homens que aprenderam a falar com Deus à la Jacó. Converti-me numa igreja batista onde os crentes falavam com Deus como se ele fosse um supremo magistrado. Maravilhoso Deus, Deus que estás nas mais altas alturas, Poderoso Deus, expressões como estas eram uma constante. Eu via Deus distante, lá nos altos céus e eu me sentia tão pequenino tão insignificante. Orava sim, mas com o sentimento de quem já se conformara que a decisão que ele tomasse, sem prensar que orando dessa forma nem precisava orar, pois ele faria o que pretendia fazer independente da minha vontade. Quando estudei a vida de Lutero, de Mood, vi que eles debatiam com Deus os seus problemas e que muitas vezes faziam com Deus atendesse seus pedidos, alguns até inusitados. Mood dizia que não orava a Deus por coisa boba não, quando orava é por que tinha algo muito grande a pedir. Não orava por uma simples dor de cabeça, pela galinha que fugiu do quintal, eles se negava a pedir coisas que o próprio indivíduo podia solucionar. Notei que a projeção que eles tinham de Deus era a de um pai onde você solicita simples e direto o que quer e se preciso argumenta com ele suas razões.
2. O caso especial de Miranda Pinto – não solicitei de sua família autorização para falar do seu ministério de oração, até por que tive o privilégio de conviver com ele um ano de grandes bênçãos. Quando cheguei ao Seminário Betel, no Rio de Janeiro, meus conhecimentos com Miranda Pinto foram cercados de perplexidade e dúvidas. Esse homem era louco ou o que?
Ele não orava como os demais, nas primeiras vezes enquanto ele orava eu abria meus olhos para ver com quem ele estava falando, pois a impressão é que havia alguém ao seu lado para ouvi-lo, e ele devia sentir o mesmo, pois ao invés de orar ele conversava com Deus, ora para pedir, ora para cobrar pedidos passados, ora para insistir nos seus pedidos.Oração rápida já detestava orações longas. Certa ocasião D. Tabita, sua esposa durante o culto falou da ausência de Miranda Pinto, pois achava que passou a noite orando, ele foi entrando no salão e retrucou: não estava orando, estava sim, brigando com Deus e afirmou que continuaria brigando até que Deus atendesse a sua oração. O fato era de um homem que tinha seis filhos e estava com câncer. O pastor nos perguntou vocês acham que um homem desses pode morrer com câncer deixando seis filhos órfãos? Meio constrangidos dissemos que não podia e ele disse: eu também acho e já falei com Deus. Para surpresa nossa um mês depois os exames daquele homem não acusavam mais doença nenhuma! A intimidade de Miranda Pinto com Deus levou-se a entender que sua projeção era a de um pai inteiramente humano e não o Deus distante que me acostumara a ver.
3. O problema do milagre na relação humana
3.1. O que é milagre – teologicamente denominam-se milagre as providências de Deus em favor da humanidade, todavia é bom entendermos que o milagre se dá através das transformações que Deus faz com a natureza, seja ela matéria ou biológica, mas Deus não faz mágica, ou seja, ele não faz surgir do nada, isto se pode ver nos milagres praticados por Cristo.
3.2. O que não é milagre – Deus quando opera um milagre já viu se esgotar todas as esperanças humanas de solução de problemas. O milagre divino não é algo que se pode negociar e nem é produto da ação humana. Deus não está a serviço do homem para operar providências extraordinárias basta que ele exija. E o milagre só acontece quando Deus vê esgotar todas as tentativas de solução ai ele interage e ao seu dispor. Às vezes ele opera um milagre em face de súplica incessante do pedinte, mas isto vai revelar o grau de intimidade do suplicante com Ele.
3.3. O que não é milagre – a ciência tem provado que o ser humano tem um cérebro quando sugestionado provoca mutações, transformações, curas de enfermidade, que normalmente se atribua a fenômeno do milagre. A fé do crente pode realizar maravilhas que não são propriamente milagres divinos. Ele deve agradecer a Deus o poder que o Espírito Santo confere ao cérebro humano e ele (o cérebro) a par desta motivação realiza o desejo do crente. É bom que se afirme que este sugestiona mento pode ter origem psicológica ou religiosa o que pode eliminar o elemento milagre do evento. Caso contrário será forçado a chamar os psicólogos de milagreiros, os “santos” da ciência.

3.4. O que Deus não quer ser

3.4.1. O Todo Poderoso longe do homem – notemos quando da criação que Deus, ao cair da tarde, ia conversar com o homem. Ele não se afastou do homem nem naquela época nem hoje em dia. O lançar Deus nas alturas o faz triste, como nos tempos de Galileu que propôs um novo caminho do homem longe de Deus. Esse distanciamento coloca Deus distante do homem que pouco fala com Deus e nas orações ele não dialoga com o criador e produz apenas um monólogo onde só o crente fala e não espera Deus dar resposta. Ele quer que o fiel deixe uns poucos minutos a sós no recôndito do seu lar para falar e ouvir Deus, andar sem medo sabendo que o Senhor está ao seu lado fazendo parte do conjunto dos pensamentos do seu dia-a-dia. Ele quer ser pai (no minúsculo mesmo), amigo, confidente, e até confessor para ouvir as coisas boas e as queixas do fiel.






3.4.2. O banco de investimento do homem – os dízimos, as ofertas que normalmente o crente dá nas igrejas, a entrega da casa, do carro, tudo para Deus dizem, mas na verdade estão fazendo um investimento no Banco divino e na primeira agrura vão cobrar esse investimento exigindo a devolução e com juros do que ofertaram o Deus. Entregam a Deus os bens, os planos, os filhos, a família e não perdoam se alguma coisa ruim acontecer com “as entregas”, afinal elas não colocaram nas mãos de Deus, que mordomo é ele que não cuidou do baú de confiança deste crentes mesquinhos que de Deus só querem “venha a nós” e ao vosso reino nada.
3.4.3. O “guarda-chuva” de cada dia – ai meu Deus, Deus me acuda, só Deus para me ajudar, são expressões de desespero apelando a Deus, o deus que eles não adoram, não prestam qualquer culto e se acham no direito de incomodá-lo nos momentos de angústia quando tudo está por ruir. Deus é um guarda-chuva desta gente que só o procura quando as chuvas, as águas desta vida inundam sua existência, mas que tão logo passe eles fecham o instrumento e o põe de volta no guarda roupa. Para esta gente falar em Deus quando se está nas rodas sociais é vergonhoso, demonstra ser piegas, beato de religião, algo que não pega bem numa hora dessas.

domingo, 13 de dezembro de 2009

III- O Deus de Jesus Cristo


III – O Deus de Jesus Cristo

  1. A relação do Pai com o Filho (João 1.1-5) – O evangelista João que segundo alguns estudiosos da Bíblia foram um verdadeiro discípulo intelectual de Platão, toma de empréstimo o termo Logos (=Verbo) para identificá-lo com a pessoa de Cristo. Ele mostra Cristo a serviço do Pai, construindo todo o universo numa relação muito íntima com o Pai e o Espírito Santo. Apesar de ser uma das pessoas da Trindade, quando perguntado de sua volta ele responde que só o Pai sabia deste evento o que demonstra que seu conhecimento se limitava ao conhecimento do Pai. Na I Epístola aos Corintios Paulo declara que após Jesus vencer todas as potestades do mal, quando todos estiverem sob o seu poder, mas o apóstolo faz questão de afirmar todos não inclui a Deus, ele também se submeterá ao Pai para que Deus seja tudo em todos. Notemos que o apóstolo faz questão de tornar distinto o Pai do Filho, embora extremamente relacionados um com o outro.
  2. Jesus se apresentou como zelador de Deus – o zelador é aquele que cuida das coisas do seu superior, evitando que de alguma maneira a imagem, o patrimônio. do seu senhor sejam prejudicados. Jesus na sua curta trajetória existencial aqui na terra, apenas 33 anos, cuidou da imagem e dos bens do seu Pai. Ora mostrando os desígnios divinos, sempre em favor da humanidade, a imagem de pai amoroso, mas justo e santo que ama o pecador, mas detesta seus pecados.
 Que às vezes interfere no destino da humanidade tentando por as coisas em ordem, enfim o Deus que muitos insistem em desconhecer. Em momento algum procurou colocar-se a frente de Deus, e como diz Paulo aos filipenses 2.6. que Jesus não teve por usurpação ser igual a Deus, mas submeteu-se a vontade santa do Pai. Os Evangelhos chamam Jesus de imagem de Deus dando a impressão do Pai e o Filho serem a mesma coisa o que não é verdade. Minha imagem que aparece no espelho não sou eu, ela me retrata com a maior fidelidade, mas ainda assim não sou eu, o mesmo acontece cm Cristo, olhar para ele é o mesmo que olhar para Deus ainda assim são distintos com personalidade diferentes, porém voltadas para o mesmo objetivo.
  1. Sua parceria com Deus visando à salvação do homem – contrato este firmado antes que o homem passasse a existir. Por conta de sua presciência Deus sabia o iria acontecer, até mesmo a saga de Satanás estava previsto nos planos de Deus. Logo que o pecado se consumou Ele anunciou seu plano de salvação. Cristo foi anunciado como o que pisaria a cabeça da serpente e a vitória sobre a morte que estava começando a aparecer. Cristo aparece em várias formas de alegoria dentro da reforma pictórica de Deus. Ele substituiria Isaque, o Cordeiro pascal, o cordeiro fora do arraial, o 4º anjo visto por Daniel, a pedra atirada por Davi contra Golias, todas as figuras colimavam para o objetivo máximo de Cristo: sua morte na cruz. Não se diga que essa parceria foi fácil de ser executada, Embora de personalidade divina Jesus trazia consigo o seu lado humano, que tinha as mesmas necessidades do homem. Fome, sede, cansaço, sono e o que é pior medo, pois sem esse sentimento social a obra de Cristo seria uma palhaçada, um teatrinho para enganar a humanidade, posto que as manifestações fossem puro engodo. O medo que Jesus sentiu o levou a pedir ao pai que se possível fosse inventasse uma outra forma para salvar a humanidade, um apelo à inteligência do Pai na busca de outras formas de solução ao problema da salvação humana, porém se conformou que os desígnios do Pai, oração essa que muitos crentes fazem sem atentarem que as circunstâncias eram especiais e não se aplicava às orações do nosso dia-a-dia.
  2. Quando Deus abandona Cristo – a oração de Jesus: Deus meu, Deus meu porque me abandonaste? – indagação esta de quem mal podia falar (a cruz com a trave no meio, uma invenção dos cartagineses, retirava o oxigênio dos pulmões) ecoou de modo significativo na história. Freud nunca perdoou Deus por este abandono acusando-o de parricídio, grandes teólogos também não entenderam esse abandono. Em Isaías 53 o profeta descreve de forma magistral a obra de Cristo como o cordeiro de Deus, os sofrimentos, a dor, a humilhação do Filho de Deus. Porem no verso 11 do mesmo capítulo ele fala da obra de Cristo como um parto (em português traduziram como trabalho, no francês é travail = parto) um parto normal só acontece quando surgem às dores, sem elas o parto não acontece. As dores de Cristo foram às dores do parto da humanidade, Deus não poderia fazer nada a não ser dizer: meu filho suporte as dores senão não haverá parto.
  3. Cristo recompensado por Deus – na sua ascensão gloriosa aos céus Jesus encontrou a recompensa pela obra realizada. Despido desse envelope imundo que é o nosso corpo, corpo esse que ele chamou de carne fraca agora ele podia atravessar portas trancadas, ter sua aparência translúcida, sua vitória estampada diante dos seus discípulos. Paulo diria vitoriosamente: onde está ó morte o teu aguilhão? Satanás sentiu-se derrotado e as hostes infernais recolheram a sua própria indignidade, enquanto as celestiais glorificavam a Deus com hinos de vitória.